Doentes Não Urgentes no Serviço de Urgência de um Hospital Português: Motivos e Características de Utilização

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20344/amp.23644

Palavras-chave:

Acessibilidade aos Serviços de Saúde, Conhecimentos, Atitudes e Prática em Saúde, Cuidados de Saúde Primários, Mau Uso de Serviços de Saúde, Portugal, Serviço de Urgência Hospitalar

Resumo

Introdução: O aumento da procura por serviços de urgência (SU) tem desafiado os sistemas de saúde, em grande parte devido à presença de doentes considerados não urgentes, representando 40,3% das admissões em Portugal.
Métodos: Foi realizado um estudo transversal no SU do Hospital São Sebastião da Unidade Local de Saúde Entre Douro e Vouga, durante cinco semanas, envolvendo doentes adultos. Os dados foram obtidos a partir de registos clínicos eletrónicos e inquéritos aplicados aos doentes no SU. O estudo visou identificar preditores de urgências desnecessárias, aplicando um modelo de regressão logística multivariada.
Resultados: Dos 10 333 doentes que recorreram ao SU, 12,3% foram classificados como não urgentes. Os principais motivos de procura do SU incluíram a autoperceção da gravidade dos sintomas, realização de exames ou tratamentos imediatos, proximidade do hospital e perceção de cuidados de maior qualidade. Fatores como a isenção de taxa moderadora (OR = 0,888), proximidade ao hospital (OR = 0,990), ter médico de família atribuído (OR = 0,190), conhecimento de consultas de doença aguda nos Cuidados de Saúde Primários (OR = 0,428) e da linha telefónica SNS24 (OR = 0,089) associaram-se a menores odds de urgências desnecessárias. Os doentes não urgentes recorreram mais ao SU em dias úteis (OR = 1,179) e de manhã (OR = 1,637). A probabilidade de um episódio ser não urgente foi 1,8% maior por cada ida adicional ao SU (OR = 1,018).
Conclusão: A procura inadequada do SU é influenciada por fatores socioeconómicos e comportamentais. A isenção de taxa moderadora esteve associada a uma menor probabilidade de urgências desnecessárias, questionando-se a eficácia deste copagamento como moderador da procura. Apesar da disponibilidade dos Cuidados de Saúde Primários, o SU foi preferido durante os dias úteis e no período da manhã. A associação entre o conhecimento sobre alternativas ao SU e a presença de médicos de família com uma menor probabilidade de urgências desnecessárias destaca a necessidade do aumento da literacia dos doentes e fortalecimento dos Cuidados de Saúde Primários.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Administração Central do Sistema de Saúde, IP. Indicadores de monitorização dos hospitais. [consultado 2024 ago 25]. Disponível em: https://benchmarking-acss.min-saude.pt/MH_ProdRacioEficUrgenciaDashboard.

Alnasser S, Alharbi M, AAlibrahim A, Aal Ibrahim A, Kentab O, Alassaf W, et al. Analysis of emergency department use by non-urgent patients and their visit characteristics at an academic center. Int J Gen Med. 2023;16:221-32. DOI: https://doi.org/10.2147/IJGM.S391126

Scherer M, Lühmann D, Kazek A, Hansen H, Schäfer I. Patients attending emergency departments. Dtsch Arztebl Int. 2017;114:645-52. DOI: https://doi.org/10.3238/arztebl.2017.0645

Afilalo J, Marinovich A, Afilalo M, Colacone A, Léger R, Unger B, et al. Nonurgent emergency department patient characteristics and barriers to primary care. Acad Emerg Med. 2004;11:1302-10. DOI: https://doi.org/10.1197/j.aem.2004.08.032

Unwin M, Crisp E, Rigby S, Kinsman L. Investigating the referral of patients with non-urgent conditions to a regional Australian emergency department: a study protocol. BMC Health Serv Res. 2018;18:647. DOI: https://doi.org/10.1186/s12913-018-3411-4

Tapia AD, Howard JT, Bebo NL, Pfaff JA, Chin EJ, Trueblood WA, et al. A retrospective review of emergency department visits that may be appropriate for management in non-emergency settings. Mil Med. 2022;187:e1153-9. DOI: https://doi.org/10.1093/milmed/usab553

Carret ML, Fassa AG, Kawachi I. Demand for emergency health service: factors associated with inappropriate use. BMC Health Serv Res. 2007;7:131. DOI: https://doi.org/10.1186/1472-6963-7-131

Vogel JA, Rising KL, Jones J, Bowden ML, Ginde AA, Havranek EP. Reasons patients choose the emergency department over primary care: a qualitative metasynthesis. J Gen Intern Med. 2019;34:2610-9. DOI: https://doi.org/10.1007/s11606-019-05128-x

McIntyre A, Janzen S, Shepherd L, Kerr M, Booth R. An integrative review of adult patient-reported reasons for non-urgent use of the emergency department. BMC Nurs. 2023;22:85. DOI: https://doi.org/10.1186/s12912-023-01251-7

Idil H, Kilic TY, Toker İ, Dura Turan K, Yesilaras M. Non-urgent adult patients in the emergency department: causes and patient characteristics. Turk J Emerg Med. 2018;18:71-4. DOI: https://doi.org/10.1016/j.tjem.2017.10.002

Dixe MA, Passadouro R, Peralta T, Ferreira C, Lourenço G, Sousa PM. Determinantes do acesso ao serviço de urgência por utentes não urgentes. Rev Enf Ref. 2018;4:41-52. DOI: https://doi.org/10.12707/RIV17095

Portugal. Portaria n.º 71/2024. Diário da República, I Série, n.º 41 (27/02/2024). p.1-5.

Grupo Português de Triagem. Manual de formando – triagem de Manchester. [consultado 2024 jan 20]. Disponível em: https://www.grupoportuguestriagem.pt.

Womack JP, Shook J. Gemba walks. 2nd ed. Cambridge: Lean Enterprise Institute; 2011.

Daniel WW, Cross CL. Biostatistics: a foundation for analysis in the health sciences. 11th ed. Hoboken: Wiley; 2018.

Pregibon D. Goodness of link tests for generalized linear models. J R Stat Soc Series C Appl Stat. 1980;29:15-24. DOI: https://doi.org/10.2307/2346405

El-Masri M, Bornais J, Omar A, Crawley J. Predictors of nonurgent emergency visits at a midsize community-based hospital system: secondary analysis of administrative health care data. J Emerg Nurs. 2020;46:478-87. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jen.2020.02.002

Portugal. Decreto-Lei n.º 2/2022. Diário da República, I Série, n.º 103 (27/05/2022). p.10-4.

Portugal. Lei n.º 84/2019. Diário da República, I Série, n.º 168 (03/09/2019). p.34-5.

Ramos P, Almeida A. The impact of an increase in user costs on the demand for emergency services: the case of Portuguese hospitals. Health Econ. 2016;25:1372-88. DOI: https://doi.org/10.1002/hec.3223

Oliveira F. Fatores que contribuem para a afluência de casos não urgentes nos serviços de urgência: um estudo no Hospital da Senhora da Oliveira, Guimarães, E.P.E. Universidade do Minho, Escola de Economia e Gestão. [consultado 2025 jul 03]. Disponível em: http://hdl.handle.net/1822/69788.

Gentile S, Vignally P, Durand AC, Gainotti S, Sambuc R, Gerbeaux P. Nonurgent patients in the emergency department? A French formula to prevent misuse. BMC Health Serv Res. 2010;10:66. DOI: https://doi.org/10.1186/1472-6963-10-66

Uscher-Pines L, Pines J, Kellermann A, Gillen E, Mehrotra A. Emergency department visits for nonurgent conditions: systematic literature review. Am J Manag Care. 2013;19:47-59.

Portugal. Decreto-Lei n.º 2/2024. Diário da República, I Série, n.º 4 (05/01/2024). p.41-2.

Pourat N, Davis AC, Chen X, Vrungos S, Kominski GF. In California, primary care continuity was associated with reduced emergency department use and fewer hospitalizations. Health Aff. 2015;34:1113-20. DOI: https://doi.org/10.1377/hlthaff.2014.1165

Simões P, Gomes S, Natário I. Hospital emergency room savings via Health Line S24 in Portugal. Econometrics. 2021;9:8. DOI: https://doi.org/10.3390/econometrics9010008

Carret ML, Fassa AC, Domingues MR. Inappropriate use of emergency services: a systematic review of prevalence and associated factors. Cad Saude Publica. 2009;25:7-28. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2009000100002

Uthman OA, Walker C, Lahiri S, Jenkinson D, Adekanmbi V, Robertson W, et al. General practitioners providing non-urgent care in emergency department: a natural experiment. BMJ Open. 2018;8:e019736. DOI: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2017-019736

Publicado

2025-10-06

Como Citar

1.
Godinho de Sousa A, dos Santos Carneiro CA. Doentes Não Urgentes no Serviço de Urgência de um Hospital Português: Motivos e Características de Utilização. Acta Med Port [Internet]. 6 de Outubro de 2025 [citado 11 de Dezembro de 2025];38(11):708-17. Disponível em: https://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/23644

Edição

Secção

Original