A ferropenia é uma condição clínica caracterizada pela depleção das reservas de ferro, podendo afetar até 95% das grávidas portuguesas. Se não for identificada e tratada precocemente, esta condição pode evoluir de fadiga, cansaço e redução da produtividade laboral para anemia, aumentando o risco de complicações materno-fetais. O diagnóstico precoce da ferropenia na gravidez é, portanto, fundamental para a correção atempada do défice de ferro, prevenindo complicações no parto e puerpério. A evidência científica e as diretrizes internacionais reconhecem a ferritina sérica como o melhor indicador para a deteção da ferropenia. No entanto, o seu doseamento não está atualmente parametrizado nas diretrizes oficiais de monitorização da gravidez, em nenhum dos trimestres gestacionais, em Portugal. Esta ausência de recomendação formal leva a uma abordagem clínica heterogénea, favorecendo o subdiagnóstico e subtratamento da ferropenia, com impacto negativo significativo na saúde materno-fetal. Face a esta lacuna, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, a Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal e o Anemia Working Group Portugal promoveram a criação de um grupo de trabalho composto por quatro peritos clínicos. Este grupo reuniu-se com o objetivo de desenvolver um documento de orientações práticas para a uniformização do doseamento da ferritina sérica ao longo dos três trimestres da gravidez, nos cuidados de saúde a nível nacional. Com estas recomendações, os peritos pretendem consciencializar os principais intervenientes na vigilância das grávidas em Portugal, e sensibilizar as autoridades nacionais para a necessidade urgente de integrar este indicador nos sistemas informáticos de monitorização da gravidez nos cuidados de saúde primários, garantindo uma abordagem mais eficaz à ferropenia gestacional e um menor impacto na saúde materno-fetal. 

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