Introdução: A evidência científica relativa ao tratamento sistémico das neoplasias das glândulas salivares é limitada e a abordagem terapêutica da doença localmente avançada ou metastática baseia-se principalmente em consensos. O objetivo deste estudo foi avaliar os padrões de tratamento e os desfechos em doentes com carcinoma das glândulas salivares avançado.
Métodos: Realizámos um estudo de coorte retrospetivo num centro oncológico em Portugal, incluindo doentes adultos diagnosticados com tumores malignos primários das glândulas salivares entre 2012 e 2021. Os dados demográficos, as caraterísticas do tumor, os tratamentos e os resultados foram recolhidos a partir dos registos oncológicos institucionais e dos registos médicos eletrónicos. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética institucional.
Resultados: Foi identificado um total de 116 pacientes com neoplasias das glândulas salivares e, desses, 45 tinham doença localmente avançada ou metastática: 24 receberam tratamento antineoplásico sistémico e 21 receberam os melhores cuidados de suporte. A sobrevivência global a um ano no grupo que recebeu tratamento antineoplásico sistémico foi 70% (versus 14% no grupo que recebeu os melhores cuidados de suporte, p < 0,001) e a sobrevivência livre de progressão foi 37%. O tratamento sistémico mais frequentemente utilizado foi a quimioterapia (n = 29, 59%). Sete doentes (14%) receberam terapia de privação de androgénios e dois doentes (4%) receberam outra terapêutica dirigida (olaparib e erdafitinib). 
Conclusão: O tratamento sistémico foi associado a uma melhoria significativa da sobrevivência em doentes com cancro avançado das glândulas salivares. Apesar da heterogeneidade das abordagens terapêuticas, incluindo as terapias baseadas em biomarcadores, a tomada de decisões clínicas continua a ser largamente baseada em consensos. Estes resultados sublinham a necessidade de mais investigação para apoiar estratégias de tratamento personalizadas e orientar os cuidados baseados na evidência.

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